A musculação para adolescentes é um assunto que até hoje é polêmico. Muitas pessoas ainda acreditam, que ela é altamente prejudicial. Veja o que a ciência diz, neste artigo!
Durante muito tempo, foi propagada a informação de que, nesta fase, ela é prejudicial e pode prejudicar o desenvolvimento e o crescimento. Mas será mesmo?
Este é um dos maiores mitos que cercam a musculação. Veremos a seguir, que há vários estudos que mostram os benefícios da musculação para adolescentes.
Um dos principais argumentos, de quem condena a musculação para adolescentes, é que ela prejudicaria a placa epifisiária (conhecidas como placas de crescimento). Estas placas, encontram-se nos ossos e com o término do crescimento, transformam-se em uma linha epifisiária.
Porém, não há um estudo sequer, que sustente tal posicionamento.
É importante entender que a musculação envolve uma série de variáveis. A adaptação destas, a individualidade de cada pessoa, é que vão determinar realmente, se a musculação é saudável ou não.
Então, quando falamos em musculação para adolescentes, é importante entender que estamos tratando de um público específico. A musculação para eles, é altamente saudável, desde que adaptada as suas individualidades.
Portanto, todos os posicionamentos e estudos usados neste texto, levam este quesito em conta.
Musculação para adolescentes, alguns estudos relevantes
A adolescência é uma das fases da vida humana, onde as transformações do corpo, mais ganham força. Oliveira et al (2003) preconiza que é na adolescência que há uma aceleração do crescimento, devido ao aumento nos níveis de testosterona e GH. Além disso, temos ainda a diferenciação nas fibras musculares de contração lenta e rápida, aumento dos aspectos específicos de cada sexo (antropometria e massa muscular) e a menarca (início da função menstrual) em meninas.
Desta maneira, todo o treino de musculação precisa ser pensado de acordo com tais maturações.
Em um estudo de Dahad (2009) foram revisados os estudos relacionados com o treinamento de força em crianças e adolescentes, publicados nos 28 anos anteriores, em uma das mais importantes revistas científicas do mundo. O autor concluiu que as crianças podem obter uma melhoria de força em 30% a 50% após apenas 8 a 12 semanas de treinamento planejado e bem estruturado.
Além disso, foi possível verificar que os adolescentes precisam continuar treinando pelo menos 2 vezes por semana para manter a força. Os relatos de casos de lesões relacionadas ao treinamento de força, incluindo fraturas de placas epifisárias e lesões nas costas, são atribuídos principalmente ao mau uso de equipamentos, peso inapropriado, técnica inadequada ou falta de supervisão. Ou seja, o problema não reside na musculação para adolescentes, mas sim, na sua prática inadequada.
Em um outro estudo de revisão, Malina (2006) revisou 22 estudos e relatórios anteriores, excluindo programas isométricos, em adolescentes.
Nesta revisão, os estudos mostraram uma predominância de exercícios guiados e com peso livre nos experimentos.
Ele verificou que os programas de treinamento de musculação não influenciaram o crescimento em altura e peso de adolescentes.
Além disso, destes estudos, apenas 10 acompanharam sistematicamente lesões. Nestes, apenas 3 lesões foram relatadas e tem uma ligação direta com a forma como os movimentos eram executados.
Robergs e Roberts (2002) preconizam que as adaptações agudas musculares ocorrem durante a realização do treinamento. Estas, ocasionam reações metabólicas e intra-musculares, que vão otimizar a ressíntese de ATP. Isso, em longo prazo, otimiza a qualidade das reações metabólicas ligadas as questões energéticas.
Há uma série de outros estudos que poderiam ser citados aqui. No geral, mesmo com outras metodologias, outros públicos e objetivos, os resultados sempre foram parecidos.
Não há, na literatura, estudos sérios e bem conduzidos, que mostrem malefícios para adolescentes, que são submetidos a prática da musculação. Onde há lesões e problemas, sempre há o fator treinamento sem a devida supervisão.
Por isso, é muito importante, quando falamos de musculação para adolescentes, entender que ela está relacionada, prioritariamente, com a qualidade dos estímulos.
Veja agora, como deve ser o treino de musculação para adolescentes!
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Como deve ser a musculação para adolescentes?
Como foi mostrado acima, o que vai fazer com que o treino de musculação em adolescentes seja de fato efetivo e seguro, é a forma e a metodologia usada. A musculação em si, só traz benefícios para os adolescentes. A prática errônea e irresponsável, é que pode trazer problemas como lesões.
Por isso, é importante seguir uma boa metodologia de trabalho, para que haja mais segurança!
1- Primeiro execução, depois carga
Este não é um parâmetro de qualidade apenas para adolescentes, mas também, para qualquer pessoa. Porém, em adolescentes, por termos o fator crescimento envolvido, temos maior importância neste quesito.
Imagine, um adolescente que por exemplo, não consegue agachar da forma adequada, mantendo todas as rotas articulares e posição da coluna, preservadas. É possível usar carga neste exercício? Não! Primeiro precisamos melhorar a execução. Após isso, é que podemos aumentar a carga e a intensidade do movimento.
Adolescentes tendem a ser mais ansiosos com resultados e desempenho. É fundamental que o adulto que está supervisionando o treino, mantenha sempre o cuidado, para que não haja problemas no que se refere a qualidade do treino. Por isso, antes de tudo, devemos priorizar a qualidade na execução dos movimentos. Depois disso, podemos pensar em carga.
2- Treino de adolescente precisa ser periodizado
Sabe aquela mentalidade de que por que a pessoa é jovem ela “aguenta qualquer coisa”? Ela não cabe na musculação. Treino de musculação para adolescente, precisa ser periodizado. Para o correto desenvolvimento de força e hipertrofia, precisamos de uma boa base, de algo que dê o suporte para que tais adaptações ocorram.
Por isso, precisamos de um bom planejamento das ações e estratégias a serem usadas, em longo prazo. Mesmo adolescentes com potencial para serem atletas, que precisam de melhoria do desempenho, precisam desta questão bem trabalhada.
3- Foco no médio e longo prazo
Um adolescente precisa, sempre, de um estímulo que seja sustentável. Ele tem que manter o treinamento por um bom período de tempo, para que tenha de fato, os benefícios do exercício físico em sua vida.
Por isso, todas as estratégias são pensadas em médio e longo prazo. Devemos primeiramente pensar nas bases funcionais do treino, para depois, focar nas questões de desempenho e de estética.
4- Estímulos adequados com a capacidade de adaptação
Da mesma maneira que temos de ter cuidado com a intensidade alta, devemos também pensar em acompanhar o nível de adaptação do adolescente. Eles tendem a adaptar-se aos estímulos de uma forma muito mais rápida. Por isso, o treino, bem como a periodização, precisam preconizar o aumento da intensidade dos estímulos, de acordo com a adaptação.
Por isso, é muito importante que o adulto que acompanha o treino do adolescente, mantenha-se atento ao nível de treinamento do mesmo. Desta maneira, poderemos verificar se os estímulos estão adequados e principalmente, se o treino vem surtindo o efeito esperado.
5- Dieta e suplementação
A dieta também é um ponto importante. De nada adianta o adolescente fazer seu treino corretamente, se ele não fizer uma dieta adequada. Como esta é uma fase de intensa atividade metabólica, precisamos sempre de uma dieta que dê sustentação para isso.
Além desta questão, temos ainda o treino, que gera desgaste e necessita de energia. Portanto, uma dieta saudável e alinhada com o que o adolescente precisa, é fundamental.
A suplementação pode ser usada, desde que um nutricionista avalie a real necessidade e oriente como tomar corretamente.
6- Anabolizantes jamais
Eu particularmente sou contra qualquer uso de esteroides anabólicos. Porém, no caso dos adolescentes, esta restrição é ainda maior. É muito importante que o adolescente tenha paciência, acompanhamento e saiba que os resultados não acontecem do dia para a noite. Paciência é fundamental.
Adolescentes não devem, em hipótese alguma, fazer o uso de esteroides anabólicos. Esta é uma fase onde todo o sistema endócrino está em intensa atividade. Por isso, é importante manter o equilíbrio do mesmo, durante este processo.
Por isso, para fins estéticos e de desenvolvimento, jamais devemos usar esteroides anabólicos em adolescentes. Os problemas que isso pode causar, podem repercutir por toda a vida.
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A musculação para adolescentes é uma prática altamente saudável e se feita da forma correta, com o acompanhamento de um profissional, não traz qualquer risco. Por isso, é muito importante focar na qualidade dos estímulos e em um trabalho de médio a longo prazo. Sempre treine com a orientação adequada! Bons treinos!
Referências:
OLIVEIRA, A.R. et al Elaboração de programas de treinamento de força para crianças. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina,2003.
DAHAD, K.S. Strength Training in Children and Adolescents. Sports Health. 2009.
MALINA, R.M. Weight training in youth-growth, maturation, and safety: an evidence-based review. Clin J Sport Med. 2006.
ROBERGS, R.A.; ROBERTS, S. O. Princípios Fundamentais de Fisiologia do Exercício para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte, 2002.